26 fevereiro, 2009

Há espaço pra professor no hospital

Olá amigos!!

Agora que o ano realmente começa, seguindo uma tradição essencialmente brasileira, vamos tratar de um assunto muito importante: a escolarização de alunos sob internação hospitalar. Tal recurso, ainda muito pouco utilizado em nosso país, deve ser conhecido e estudado profundamente, por todos nós que dedicamos nossas vidas à causa da Educação.
Para esclarecer bem mais e melhor o assunto, trago um artigo publicado na Revista Profissão Mestre, que certamente aclara sobremaneira a questão e nos informa ainda mais, sobre a cada vez maior importância do trabalho dos educadores.
Classe hospitalar – Há espaço para o professor no hospital
Ao abrir a porta da enfermaria, já foi possível avistar Juliana, 9 anos, paciente da Ortopedia do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba. Internada para um sério tratamento no quadril e nas pernas, a garota pouco se importava com os tensores amarrados aos membros, que a impediam de fazer qualquer movimento fora da cama. Toda sua atenção estava voltada para a tela do notebook colocado em seu colo, no qual, pouco a pouco, ela construía o resultado da pesquisa que realizou sobre o funcionamento do aparelho respiratório.Com o acompanhamento da professora Sandra Carvalho, a menina montava uma apresentação da pesquisa, que teve início a partir da sua própria curiosidade sobre o ato de respirar. “Eu achava que eram duas veias que saíam do nariz e iam direto para o coração, e quando o coração batia mandava o ar para fora de novo”, conta. A partir da primeira hipótese da respiração feita pela menina, os professores do hospital a estimularam a pesquisar sobre o assunto, até descobrir a teoria correta. “Partindo da vontade dela de saber como funciona a respiração, nós levamos outros conhecimentos e ela estudou ciências, leu bastante, escreveu, e agora ela vai fazer uma apresentação em Powerpoint para mostrar aos colegas o que ela aprendeu. Isso significa disseminar conhecimento”, declara a assistente de coordenação do setor de Educação e Cultura do hospital, Maria Gloss.É nessa linha que funciona o trabalho realizado pela equipe de professores do Pequeno Príncipe. Formado por quatorze educadores – entre professores das redes municipal e estadual de ensino, além dos profissionais contratados pelo próprio hospital –, o setor de Educação e Pesquisa existe formalmente desde 2000, mas o atendimento escolar já é praticado na instituição desde 1989. Essa prática é apenas um exemplo do que hoje se conhece como pedagogia hospitalar.A primeira classe hospitalar do país surgiu na cidade do Rio de Janeiro, no início da década de 50, no Hospital Municipal Jesus, e se tornou referência nacional no âmbito da educação especial transitória por manter suas atividades em funcionamento ininterruptamente até os dias de hoje. A importância das classes hospitalares já é reconhecida legalmente por meio do Estatuto da Criança e do Adolescente Hospitalizado, na resolução nº 41 de outubro de 1995, que em seu item 9 fala sobre o “Direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde, acompanhamento do currículo escolar durante sua permanência hospitalar”. Em novembro de 2000, foi aprovada a lei 10.685, que determina que hospitais ofereçam às crianças e adolescentes um bom atendimento educacional, que permita o desenvolvimento intelectual e pedagógico, bem como o acompanhamento do currículo escolar. Porém, mesmo com a pr evisão legal, a prática não é corriqueira. Ainda não são todos os hospitais pediátricos brasileiros que dispõem de uma estrutura adequada. Em todo o Estado de São Paulo, por exemplo, há cerca de 35 classes hospitalares em funcionamento – um número considerado pequeno perto do número de internações infantis.A pedagogia hospitalar é um assunto em voga. Desde o surgimento da lei de 2000, vários cursos de especialização na área foram surgindo no país, o que vem chamando a atenção de pedagogos e educadores que desejam exercer a profissão em outro espaço, fora da escola. Entre as matérias ministradas nos cursos de especialização, estão “Infecção Hospitalar”, “Brinquedotecas em Hospitais”, “Psicopedagogia Hospitalar” e “Políticas de Humanização dos Sistemas de Saúde”. Porém, a necessidade de um preparo especial para atuar em classes hospitalares levanta polêmica, principalmente entre os profissionais que já atuam no setor. “Particularmente, não acho que seja necessária a especialização em educação hospitalar. A nossa equipe é composta por quatorze professores, todos com anos de experiência em sala de aula, e não tem nada que nós façamos aqui que não tenhamos feito na escola. O que precisamos é de bons professores” , declara o coordenador do setor de Educação e Cultura do Pequeno Príncipe, Cláudio Teixeira, que é psicólogo e desde que saiu da faculdade trabalha com educação. No hospital, ele começou a trabalhar em 2000, quando a instituição passava por vários processos de humanização do atendimento. Em 2002, foi aberto o setor de Educação e Cultura, do qual ele assumiu a coordenação. Cláudio explica que todas as atividades propostas às crianças internadas e o desempenho que elas alcançam estão em constante avaliação, dentro de um contexto pedagógico. A partir do quinto dia de internamento da criança, os professores já iniciam o trabalho com o novo aluno. Todo o acompanhamento pedagógico é feito pela equipe do hospital, mas a escola da criança é sempre notificada do trabalho que está sendo realizado durante o internamento. Essa conexão escola-hospital permite ao aluno o acompanhamento do conteúdo que está sendo passado à turma a qual pertence. “Nós sabemos que essas crianças estão aqui para um sério tratamento de saúde, e esse é o foco. A qualquer momento ela pode ser chamada a fazer um exame ou uma cirurgia. Por isso, não são elas que vêm até nós. Nós vamos até elas, levando atividades educacionais e culturais na enfermaria, no isolamento ou no corredor”, declara o coordenador. Duran te o período de internamento, o professor registra tudo o que foi trabalhado em uma ficha de tutoria. Após a alta, o educador escreve um parecer, que é enviado à escola junto com todas a atividades desenvolvidas pelo aluno no hospital. Esse documento auxiliará a instituição de ensino no processo de readaptação da criança ao dia-a-dia escolar.Entre as várias opções de atividades oferecidas pelo hospital, uma que se destaca é a “Ciranda do Saber”, em que um paciente faz uma apresentação sobre determinado tema que pesquisou. A atividade acontece na sala própria do setor e reúne crianças, adolescentes, pais, acompanhantes e professores em uma grande roda de conhecimento. No dia da visita da reportagem ao hospital, estava acontecendo uma ciranda sobre o Egito, apresentada por uma paciente da ortopedia, estudante do 2º ano do ensino médio. O que mais impressionava nos pacientes que acompanhavam a apresentação da colega era a curiosidade que saltava em seus olhos, a sede de aprender, de descobrir, que vencia a fraqueza e as doenças. Por isso, o ambiente não assusta – encanta. Principalmente por uma característica importante de qualquer classe hospitalar, seja ela onde for: a diversidade, um desafio para muitos professores.Foi essa característica que conquistou de vez a professora Maria Gloss. Há três anos trabalhando no hospital, depois de anos de trabalho em escolas municipais de Curitiba, Maria declara que foi ali que ela encontrou a escola que procurou a vida toda. “ Aqui a gente tem a oportunidade de trabalhar com a vida. É a escola mais saudável que eu conheço. Isso parece muito dual, porque eu estou dentro de um hospital. Mas é um espaço de cura até para a escola, o que eu vivencio aqui é isso”, emociona-se.Também foi nessa diversidade que a professora Eneida Simões da Fonseca se realizou profissionalmente. Para Eneida, que é PhD em Desenvolvimento e Educação de Crianças Hospitalizadas pelo Institute of Education – University of London e tem mais de vinte anos de experiência na área, o professor que deseja trabalhar no âmbito hospitalar precisa de sensibilidade para atender as necessidades e interesses que emanam na diversidade. “Há duas características essenciais a um professor no ambiente hospitalar. Uma é estar consciente de que há um espaço para ele no ambiente hospitalar. Para tal, não deve esquecer que isto implica uma outra característica, que é o compromisso com o direito da criança doente à escolaridade. Acho um equívoco o professor ter que dominar aspectos médicos. O que é necessário é o domínio da transdisciplinariedade, da diversidade dos alunos, para atender suas necessidades de aprendizado.

Por Renata Sklaski, publicado na revista Profissão Mestre.

Um comentário:

Unknown disse...

Com certeza a escolarização em ambientes diferentes do escolar precisa ser propagada, divulgada e estudada com afinco por aqueles que se propõe a trabahar com educação. Aqui em Curitiba/PR já existem várias iniciativas nesse molde e a Secretaria de Estado da Educação já institucionalizou, inclusive, tal prática ao criar o SAREH - Serviço de Atendimento à Rede de Escolarização Hospitalar que atende, além do Hospital Pequeno Príncipe, em mais 5 instituições hspitalares na capital, além de outras duas no interior do estado. Essa parceria entre a secretaria de educação e as unidades conveniadas (hospitais) está dando tão certo que já se fala em ampliação dos convênios para que alunos pacientes que estejam em outros hospitais tenham seu direito à educação garantidos e atendidos pelo estado, como forma mantê-los 'ligados' à escola de origem afim de que não sofra maiores danos em seu processo acadêmico. Aproveito para convidar a conhecer o SAREH através do endereço http://www.seed.pr.gov.br/portals/portal/educacaohospitalar/?PHPSESSID=2008120921082353
Um abraço e se quiserem conhecer um pouco mais do trabalho que realizamos no Hospital do Trabahador em Curitiba é só entrar em contato pelo email sareh.ht@gmail.com